Atitudes antidemocráticas

A semana foi repleta de acontecimentos, todos, de certa forma, relacionados às revelações de corrupção na mais alta instância de poder da República. Enquanto ainda estávamos estupefatos com a participação de Temer nos esquemas corruptos, e revoltados com a mega sena turbinada dos irmãos Batista, a movimentação de grupos contrários ao presidente foi intensa. E o que mais chamou a atenção foram as atitudes antidemocráticas.

Primeiro, o quebra-pau no Senado Federal, protagonizado pelos defensores de Lula, Lindbergh Farias e Randolfe Rodrigues — que quase chegou às vias de fato com o senador Ataídes Oliveira. Lindbergh chegou a gritar “Não vai ler! Não vai ler!”, numa tentativa de impedir na marra a leitura do relatório da reforma trabalhista, simplesmente porque o conteúdo não era o que ele queria. Como em nenhum momento houve um pedido formal de suspensão dos trabalhos, a oposição sabia muito bem que o cronograma seria cumprido. Mas como, ao que tudo indica, eram voto vencido, a ordem foi impedir o prosseguimento dos trabalhos.

Triste Senado! Não bastasse a corrupção praticada por essas figuras que se autodenominam defensores do povo, ainda dão o antiexemplo de não apresentar argumentos, de nem sequer aceitar discutir, mas sim tentar mandar no grito e, se for preciso, agredir fisicamente quem discorde de seu posicionamento. O relator da futura nova Lei Trabalhista declarou que “o que nós assistimos foram gestos grotescos, toscos, de quem não está acostumado com o debate e, não tendo argumento, parte para a violência”.

No dia seguinte, um momento que prometia ser democrático transformou-se em terror. Sincronizados com o antiexemplo da véspera, parte dos manifestantes que compareceram à Esplanada dos Ministérios deu vazão aos seus instintos mais primitivos, a ponto de depredar o patrimônio público e ameaçar a integridade física dos servidores públicos federais.

Toda ação gera uma reação. A partir do momento em que os baderneiros participantes do “protesto” passaram dos limites da civilidade, a polícia reagiu para tentar dispersar essa gente que queria fazer valer suas reivindicações no grito e no braço, tal como seus líderes haviam feito na véspera, no Senado Federal. Assim como eles, esses ativistas não aceitam ouvir o que os outros têm a dizer; aliás, não dão chance para terceiros falarem. Na manifestação, exigiam “diretas já”, como se não houvesse uma Constituição com um comando para o caso de vacância, e avançaram sobre o patrimônio público e sobre as pessoas de bem que trabalhavam nos prédios, os expulsando dali, de forma truculenta e intolerante.

Tais atitudes estão alinhadas com governos autoritários da América Latina, de mesma linha ideológica, cujo exemplo mais extremo é a Venezuela. Nesse país, reina um autoritarismo travestido de democracia e, talvez por isso mesmo, o presidente Nicolás Maduro se sinta no direito de dar lições ao Brasil, opinando sobre a realização de “diretas já” em nosso país. Contudo, em seu próprio território, o parlamento é cerceado; o Judiciário aparelhado; o exército persegue opositores do regime; o calendário eleitoral regular é inexistente; e milícias do governo praticam a violência sobre os opositores. Bem diferente do Brasil, onde o exército vai para a rua para proteger os cidadãos e o patrimônio; onde as instituições democráticas funcionam, aos trancos e barrancos, mas funcionam; e onde em 2018 haverá eleições, conforme o calendário democrático regular.

Cabe lembrar que os governos petistas foram parceiros essenciais desses regimes autoritários, fornecendo-lhes dinheiro do contribuinte brasileiro para garantir pão e circo para o povo. Ora, quem apoia governos autoritários só pode ser a favor de tais práticas. Nossa sorte é que os antecessores de Temer não tiveram força no Congresso Nacional para mudar a Constituição. Tivessem tido, e poderíamos apostar que hoje teríamos outra Carta Magna, muito provavelmente construída com a “consultoria” do partido de Chávez e de Maduro.

Ainda que tenhamos muito a consertar no Brasil, estamos amparados pela Constituição. Como bem disse a Ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, “ou o Brasil se salva com a Constituição, ou vamos ter mais problemas”. E verdade seja dita, já temos problemas demais, não precisamos criar outros.

Bom fim de semana procês!

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