Bomba-relógio

dilma-e-temer2Estamos vivendo um final de ano eletrizante na política nacional. Numa semana um senador é preso, com base em gravações de tenebrosas transações; na outra, um pedido de impeachment da presidente é aceito pelo presidente da Câmara dos Deputados. E esta semana, a carta-bomba-desabafo-rompimento do vice-presidente Michel Temer, e ainda dois mega barracos na Câmara dos Deputados.

Uma coisa é certa: no Brasil, não morremos de tédio.

Há quem diga que a tal carta-bomba-desabafo-rompimento expõe um Michel Temer vaidoso, mas político vaidoso é pleonasmo, não é mesmo? Até síndico de prédio tem a vaidade política de estar no comando do condomínio.

Agora, qual vice não é decorativo? É verdade que Michel Temer está envolvido em quase nada no governo, e afirma que era chamado somente para conseguir votos no Congresso na hora do aperto, dada sua capacidade de interlocução. E o danado conseguia, mas, ainda assim, de acordo com a carta, não lhe era permitido dar sequer um pitaco nas decisões do governo que ele vice preside. Vale lembrar aqui que, na ausência da presidente (viagens, férias, licença médica etc.), ele assume o governo e, estrategicamente, a melhor coisa a se fazer seria deixá-lo por dentro de tudo, envolvê-lo de alguma maneira nos principais temas do país. Bem, isso seria a melhor coisa a se fazer para o próprio país, claro.

A demonstração mais clara do escanteamento de Temer por Dilma é o fato de que ele não foi convidado para conversar com seu correspondente nos EUA. Bafão! Dilma, além de péssima presidente, é péssima política.

Muita gente diz que a carta é puro mimimi. Lamento informá-los de que a política nacional, desde os tempos da velha república, vem sendo construída, desconstruída e reconstruída quase que à base de mimimis, seja por cargos, seja por satisfazer os desejos políticos almejados por aqueles que estão muito próximos ao poder. Acho que isso nunca vai mudar, infelizmente, pelo menos enquanto eu viver (e pretendo viver bastante ainda). O fato de um político sentir-se desprestigiado por outro e queixar-se disso (mimimi) já provocou muitos rompimentos e algumas quebras políticas graves no país.  Talvez estejamos testemunhando mais um desses episódios.

Ao longo de nossa história, são inúmeros os rompimentos de presidentes com seus aliados e, muitas vezes com seus próprios vices. Na época do impeachment de Collor, por exemplo, o que fez Itamar Franco? Collor o achava “um perfeito idiota”, Itamar defendê-lo-ia? Não creio que Dilma ache Temer um idiota, mas sempre o desprestigiou sem cerimônia. E agora quer que o Michel a defenda com unhas e dentes? Difícil, hein?

Não ouso dizer que Temer conspire contra Dilma, mas tampouco ousaria negar uma conspiração. A situação toda e a relação construída entre eles (Dilma e Michel) ao longo dos últimos cinco anos no mínimo favorece um rompimento. É como se fosse um marido tomando decisões pela família (os gastos, as compras, os investimentos) e quando uma dívida estoura e ele não consegue pagar, põe a esposa pra trabalhar mais para tentar resolver o problema, mas ele mesmo faz pouco ou nada a mais. Cumprida a obrigação, a esposa volta ao seu papel secundário, de novo sem participar das decisões orçamentárias domésticas. Há casamento que aguente isso? Só se a esposa for extremamente submissa ou receber compensações, como joias, roupas de grife e viagens internacionais. Parece que é mais ou menos isso o que vem rolando na relação Dilma-Michel ou, extrapolando, na relação PT-PMDB. Esse casamento, todos sabemos, é de conveniência, mas em que pesem todos os esforços, o PT é um péssimo marido para uma esposa muito exigente e multipolar.

Engana-se quem reduz a carta de Temer a um simples mimimi, a lamúrias, queixas. Temer é raposa velhíssima, suas ações são bem calculadas, não nos esqueçamos disso. A estratégia bem característica do PT de desqualificar seus oponentes e inimigos é velha, mas ainda funciona. Portanto, é preciso ler essa carta nas entrelinhas para conseguir enxergar seu real significado.

Dilma, ao que parece, entendeu. Ela e Michel já tiveram uma conversa e tudo indica que fizeram as pazes, com a promessa de uma relação mais “fértil”. Enquanto isso, na Câmara dos Deputados, o líder do PMDB foi substituído e as discussões sobre o impeachment andam quentes.

A Praça dos Três Poderes é a bomba-relógio do Brasil. Por enquanto, o Supremo Tribunal Federal ainda mantém algum controle. Os outros dois poderes estão prestes a implodir-se e, consequentemente, a explodir tudo ao seu redor: por acaso, o nosso país, a nossa casa, a nossa pátria.

Dá medo.

Bom fim de semana procês!

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1 Response

  1. Miag disse:

    Gostei da crônica, Vânia Gomes!