Discurso de posse – Academia de Letras do Brasil (ALB-DF)

Vânia Gomes, junto à presidente da ALB-DF e as acadêmicas Ruth Glória e Paola Rhoden

Vânia Gomes junto à presidente da ALB-DF, Vânia Moreira Diniz, e as novas acadêmicas Ruth Glória e Paola Rhoden

Por: Vânia Gomes, Acadêmica Imortal, Cadeira nº 45

Senhora Presidente da Academia de Letras do Brasil, Seccional DF, Dra. Vânia Moreira Diniz, na pessoa de quem cumprimento todos os membros da Mesa, queridas colegas Paola e Ruth, Senhoras e Senhores, boa noite!

Confesso-lhes que nunca discursei em minha vida, esta é a primeira vez. E estreio já com um discurso de posse em uma instituição acadêmica de relevância no cenário literário e cultural do nosso Brasil. Meus Deus! É uma honra e uma forte emoção estar aqui entre todos vocês e agora como membro da ALB-DF.

Foi-me dada a difícil missão de escolher um patrono para esta nova cadeira que se agrega à nossa Academia. Difícil, porque ao longo de mais de 500 anos de História são muitos os escritores que nos inspiram e nos ensinam com seus escritos – essa lista, aliás, só aumenta. Decidi, então, estabelecer critérios e o primeiro deles é que eu deveria eleger uma patrona, uma mulher como eu!  Depois, me lembrei que meu estado natal, Minas Gerais, é um verdadeiro celeiro cultural, com grandes nomes de nossa Literatura.  Minha patrona deveria, como eu, ser mineira. Só com estes dois critérios consegui afunilar bastante meu leque de opções e, após refletir e ler um bocado, claro, escolhi como patrona desta cadeira de número 45 a inconfidente Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira.

Bárbara Heliodora nasceu em São João Del Rei, em 1759. E é conhecida por todo mundo que estuda o Arcadismo na escola, porque ela é a Bárbara Bela do inconfidente e poeta Alvarenga Peixoto. Que mulher inspiradora! Eu, que um dia sonhei ser musa de um poeta, também faço dela a minha musa, a Bárbara Bela. E o faço porque a vejo como um exemplo.

Exemplo de mulher lutadora, brava, que não se furtou a conspirar contra a tirania. Numa época em que o papel social das mulheres se limitava a educar os filhos e gerir a casa, na maioria das vezes casando-se com um noivo escolhido pelo pai, Bárbara foi pioneira e nadou contra a corrente. Ela também acalentou o sonho da independência do Brasil. Ela lutou corajosamente para reaver seus bens que foram confiscados pela Coroa Portuguesa, em função de sua participação e de seu marido no movimento inconfidente. É ela a primeira poetisa do Brasil, porque era alfabetizada, mesmo sendo mulher – um grande feito para a época. Escreveu pouco, tem-se conhecimento de dois ou três poemas de sua autoria. Há muito ainda a se descobrir sobre Bárbara Heliodora. Mas o que já sabemos sobre ela é mais do que suficiente para nos inspirar pela vida.

Vou lhes confessar também que não sou lá muito produtiva, tenho só um livro publicado e o segundo ainda está a caminho. Mas procuro sempre escrever, como todos os que me acompanham nas redes sociais podem constatar. Escrevo, pelo menos, a crônica de toda sexta-feira. O texto-extra desta semana, no entanto, já está garantido: é este discurso!

Mas não cheguei até aqui sozinha, muita gente me pegou pela mão e me ajudou a caminhar. Além de meus pais, irmãos e familiares, tenho que agradecer aos meus professores, especialmente pelos livros que eles me “obrigavam” a ler. O que começou como “obrigação” da escola se tornou um de meus maiores prazeres.

Já adulta e tendo na leitura um grande prazer, resolvi começar a escrever, só para me exercitar mesmo. Mas o exercício solitário não tem efeito. É preciso crítica externa. Descobri o Recanto das Letras, onde conheci a Nena Medeiros e vários outros escritores. Atualmente, participo de um grupo de análise de contos que surgiu de dentro do Recanto. Meus colegas criticam muito minhas histórias e eu também critico as deles e assim vou aprendendo a melhorar a minha escrita. Obrigada, Nena, você faz parte disso!

Não posso me esquecer do nosso querido Prof. Marco Antunes, com quem aprendo todos os dias. Tive oportunidade de participar de poucos dos desafios que ele organizava, mas como aprendi! Quiçá tenha sido essa a época que mais evoluí na escrita, considerando a relação tempo-aprendizado. Foi o Prof. Marco Antunes quem me inspirou e me provocou a escrever meu primeiro livro “Histórias do Vaticano e outros Contos”.

Minha editora, Noga Sklar, é outra pessoa que contribui diariamente para minha evolução como escritora. É ela quem me “força” a escrever sempre. Há cerca de um mês, conversando com ela por Skype, ouvi: “Vânia, de todos os cronistas da KBR Editora Digital, você é a mais católica”. Bom, meus tempos de pessoa muito católica são de outra vida, mas na minha vida atual posso dizer que realmente sou assídua, participativa, e minha coluna é publicada religiosamente todas as sextas-feiras há mais de dois anos. Noga Sklar, que também é escritora, é outra pessoa que me estimula muito.

É impossível não citar alguns escritores de Brasília, especialmente do Sindicato dos Escritores, que sempre me proporcionam muito aprendizado. Não conseguirei citar todos, mas quero destacar a influência da minha xará querida, a Vânia Moreira Diniz e do Prof. Paulo Diniz; também o Marcos Linhares, atual presidente do Sindicato; o Raúl Larrosa Ballesta e a Gacy Simas, grandes parceiros nos saraus; a Basilina Pereira; o Pedro César Batista; a Luci Afonso. Não dá para falar o nome de todos, mas quero registrar que cada leitura de seus textos e cada encontro com meus colegas e amigos escritores me enriquece.

Finalmente, tenho que agradecer ao Beto, meu amor, meu parceiro de vida, que além de sacrificar um pouco seus planos em função de minha atividade literária ainda tem a ingrata função de ser meu editor particular. Todo texto que escrevo é cuidadosamente revisado por ele. Obrigada, querido! Certamente eu não chegaria tão longe sem você.

Enfim, cercada de tanta gente que me acolhe e me ensina e tendo uma mulher tão forte como patrona, não há como não assumir a responsabilidade de sempre lutar pela liberdade e, se preciso for, conspirar contra a tirania.

Meu muito obrigada à ALB-DF por me receber. Agradeço ainda aos meus familiares, meus amigos, meus colegas do trabalho que compareceram nesta noite para me abraçar e testemunhar este momento único em minha vida.

Estejam certos de que sempre buscarei honrar o nome desta Academia e utilizar a palavra escrita como um instrumento de liberdade, felicidade, respeito e amor.

Veja também: Repertório da Sessão de Diplomação e Posse Novos Membros, Comunicação da Diretoria Eleita para o Triênio 2016/2019, Outorga de Títulos e Homenagens e o programa Alvorada Cultural nº 252, com uma resenha da Cerimônia.