Eu acredito!

A frase que intitula esta crônica é um mantra para a torcida do arquirrival do meu time do coração. Para os atleticanos, digo apenas uma coisa: respeito suas crenças. Dito isto, tomo a liberdade de fazer uso da fervorosa exclamação. Ela serve pra muita coisa, afinal.

A Polícia Federal e o Ministério Público não se intimidaram. As investigações até a semana passada apontavam que havia algo bem suspeito no suntuoso edifício Solaris, à beira do mar do Guarujá. Fizeram o que deveria ser feito, obedecendo rigorosamente ao princípio máximo constitucional: todos são iguais perante a Lei. Eu acredito nas nossas instituições.

O resultado da busca e apreensão no referido prédio, combinado com testemunhos e a investigação prévia, provocou a única coisa possível de se fazer: investigar os suspeitosos proprietários de um triplex. Naturalmente, terão direito a uma ampla defesa, direito igualmente garantido pela nossa constituição. Eu acredito na nossa justiça.

Os suspeitosos proprietários são um ex-presidente da república e a ex-primeira-dama. O ex-presidente-suspeito-investigado já depôs em outras situações, mas não na condição formal de investigado. Um dos filhos do ex-presidente-suspeito-investigado e da ex-primeira-dama-suspeita-investigada, já investigado em outra operação, foi intimado a comparecer para prestar depoimento, e o oficial de justiça fez das tripas coração para entregar essa intimação, como geralmente os oficiais fazem com qualquer outro cidadão. Eu acredito (pela primeira vez) que todos são iguais perante a Lei.

O ex-presidente-suspeito-investigado se julga a pessoa mais honesta do mundo, quiçá de toda a humanidade. Todo mundo tem direito a seus delírios e quem sou eu para julgar. Só não esperem, por favor, que eu acredite em Coelhinho da Páscoa e em Papai Noel.

Com base no dito popular “diga-me com quem andas e te direi quem és”, muita gente, inclusive esta cronista, desacredita da afirmativa do ex-presidente-suspeito-investigado. Ainda mais neste caso, em que este cidadão se coloca como Jesus Cristo, já que este também andava com ladrões. Só que Jesus transformava ladrões em santos, as pessoas mudavam de vida. No contemporâneo caso brasileiro, as coisas não parecem ter ocorrido de forma semelhante. Definitivamente, ninguém deve acreditar em tudo o que ouve ou lê.

No meio de todos esses acontecimentos está a nossa imprensa. Alguns jornalistas emitem opinião, outros só noticiam. Fiquei muito feliz de ouvir o jornalista Ricardo Boechat, um dos poucos da classe que sabe pensar, se referir ao ex-presidente-suspeito-investigado como “o cidadão Luís Inácio Lula da Silva”. Eu acredito na imprensa livre e na liberdade de expressão.

Assistir ao telejornal da noite, no horário nobre, é quase como ver um seriado americano com um roteiro impecável, que a cada capítulo apresenta uma nova surpresa que nos mantém presos à atração, quase viciados. É emocionante ver os “vilões” do país se dando mal, pela mão de gente como nós, cidadãos comuns, cujas funções estão relacionadas ao controle do estado e a investigar as máfias que tomam conta de nossa pátria. Nossos heróis existem, e usam a inteligência e todos os dispositivos legais para fazer com que nosso seriado termine com um final feliz. Vai ser um longo seriado, mas como não estamos diante de uma história monótona, queremos sempre mais surpresas.

Eu acredito que estamos limpando a sujeira. Ainda não chegamos nem na metade do tapete, mas vamos limpando aos poucos essa casa que nunca teve uma faxina nesse nível. E é por isso que eu também acredito que nossas instituições irão atrás de todos os meliantes de colarinho branco de nossa estremecida nação, incluindo a tucanada, que já tem um membro, ex-governador de Minas, condenado a 20 anos de prisão pelo conhecido esquema nomeado “mensalão mineiro”.

Eu acredito que estamos começando a compreender a lama e a sujeira em que nos meteram. E acredito que ainda vamos ver nosso país limpo. Como não creio em Papai Noel, não ficará impecavelmente limpo, mas acredito piamente que o Brasil nunca mais será como dantes. Ah, eu e esse meu incorrigível otimismo!

Bom fim de semana procês!