Hoje, é hoje, é hoje!

isabel tocha1Cristo Redentor: braços abertos para o mundo inteiro! Parafraseando Tom Jobim, é exatamente assim que está a cidade cheia de encantos mil a poucas horas da abertura dos Jogos Olímpicos.

A abertura, aliás, promete: pelo que já ouvi falar, ou será perfeita ou muito ruim. Tomara que não seja verdade que haviam planejado um desfile da gloriosa Gisele Bündchen com cenário virtual de Copacabana, ao som de Garota de Ipanema, durante o qual ela sofreria um assalto enquanto caminhava. Socorro!

Cortaram esse desastre, ainda bem, mas o que mais podemos esperar? Wesley Safadão, Ludmilla, Anitta. Para contrabalançar (ufa!), Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elza Soares, Zeca Pagodinho e Paulinho da Viola cantando o Hino Nacional com voz e violão. Isso está garantido que vai ser lindo. E a Vanusa, ao que tudo indica, não estará na abertura.

É uma honra para todos nós, brasileiros, sediar o maior espetáculo esportivo do mundo. No entanto, parece que boa parte de nossos (irresponsáveis) políticos encarregados pelo evento não têm a exata dimensão do que isso significa, haja vista os “imprevistos” com os australianos e outros hóspedes da Vila Olímpica. E isso dá certo medo do que pode acontecer até o final das Paraolimpíadas, afinal são mais de 30 dias.

Às vezes, caminhando pela cidade, especialmente pela orla da Zona Sul, temos a nítida impressão de que alguma coisa não vai bem. Recrutas do Exército fortemente armados fazem a ronda. Minha sensação, definitivamente, não é de segurança, ao contrário. Mesmo assim, a segurança está reforçada. Uma senhora carioca que encontrei num café contou que teve seu celular furtado — é alvo fácil para a bandidagem, pois anda com a bolsa aberta. Foi à delegacia fazer o B.O. e, antes de ela sair, chegou uma viatura que retornava da ronda entre 22h e 00h, trazendo uma boa quantidade de celulares apreendidos. O dela estava entre eles. Das 22h às 6h da manhã, a polícia faz rondas sistemáticas para recuperar celulares que tenham sido furtados. Pelo que a senhora disse, o prefeito do Rio quer evitar esse tipo de queixa durante as Olimpíadas. A pergunta que não quer calar:  por que não se adota este procedimento na rotina da cidade? O Rio recebe turistas do mundo inteiro durante o ano todo, valeria muito a pena manter esse investimento.

Apesar de vários pontos da cidade terem placas e outras indicações em inglês, o velho problema da infraestrutura precária para o turismo continua. Por exemplo, estive no Forte de Copacabana e visitei a exposição permanente da História do Brasil (sob o ponto de vista do exército). Não há ne-nhu-ma placa em inglês. Parece haver audioguias, mas eles não estão visíveis, ao alcance fácil do turista estrangeiro.

Mas, apesar dos medos e das flagrantes falhas, quero que a nossa Olimpíada seja o maior sucesso! Quero que façamos bonito ao receber o mundo inteiro. Quero mais que medalhas de ouro, prata e bronze: desejo que o nosso Brasil seja lembrado pela recepção calorosa, pela criatividade, pela alegria de sediar o evento.

Em tempos normais, o Rio emana algo magnífico aos visitantes. É o clima da cidade, da gente carioca, é o sol, o mar, o Cristo, os morros icônicos. Mas nestes dias olímpicos, o nosso Rio de Janeiro (sim, ele é de todos nós, brasileiros) está ainda mais belo, mais encantador, mais Rio do que nunca!

E boa parte dessa dose de encanto extra quem dá é o mundo. Além da presença de estrangeiros pela cidade, mais de 50 países instalaram espaços de exposição para compartilhar alguns aspectos de sua cultura.

Estive na Casa da Dinamarca. Para a criançada, um espaço da Lego, disputada com afinco pelos pais de crianças de todas as idades. É aberto somente às crianças, acompanhadas de um adulto, com hora marcada.

Ainda na Casa da Dinamarca, uma exposição das bicicletas usadas pelos dinamarqueses no seu dia a dia. Levam crianças para a escola, passeiam com idosos; é, verdadeiramente, o país da bicicleta. E havia ainda bicicletas para as pessoas pedalarem e carregarem seus celulares com a energia gerada. A cultura da bicicleta é tão significativa, que os números impressionam: nove entre dez dinamarqueses possuem uma bicicleta; existem mais de 10 mil quilômetros de rotas para ciclistas na Dinamarca; por ano, são vendidas cerca de 500 mil bicicletas — eles são pouco mais de 5,7 milhões de pessoas; bem cedo, por volta de sete anos de idade, as crianças tiram uma espécie de habilitação para pilotar sua própria bike. Mas a cereja no bolo é a estatística de que “63% dos políticos dinamarqueses vão para o trabalho de bicicleta”. Que diferença em relação ao Brasil, não? Aqui, o político nem precisa ser eleito para ter direito a um carro de luxo para transportá-lo. Pago, claro, com dinheiro público.

É, estas Olimpíadas, sem dúvida, trazem raras oportunidades de aprendizado.

Bom fim de semana procês!