Impopularidade x Populismo

Michel Temer declarou à revista The Economist que prefere ser impopular a ser populista. Eu também, mas gostaria mesmo é que sua honestidade fosse indubitável. É provável que, sendo honesto, dificilmente seria impopular.

A frase de Temer foi, sobretudo, uma patada com destinatário certo. O populismo preza pela obtenção de apoio popular por meio de políticas aparentemente favoráveis às massas, se esmerando em práticas assistencialistas. Sofremos cerca de 14 anos de populismo petista, sendo distraídos na base do pão e circo, enquanto tenebrosas transações aconteciam bem debaixo dos nossos narizes.

O Brasil ia seguindo a cartilha do populismo e, não fossem nossa Constituição e nossas instituições, teriam nos venezuelado ainda antes do término do mandato de Lula. A Venezuela, aliás, é um bom exemplo de populismo: os proclamados programas sociais não resistem à recessão e à inflação de 1660% prevista para este ano. Os mais pobres — principal público-alvo do assistencialismo — têm buscado comida no lixo, tanto de caminhões quanto de lixeiras de restaurantes. São centenas de milhares de pessoas. Chegam a se matar em disputas para vasculhar sacos de lixo. Meu Deus!

A patada do presidente também deixa transparecer que é impopular por culpa do populismo exercitado por quase 14 anos, que destruiu a nação (maior recessão da série histórica) e que, agora, “ele” tem que consertar o país com medidas que não agradam ao povo. Como já mencionamos, se a honestidade de Temer não estivesse em cheque, ainda que as medidas não agradassem, sua popularidade não estaria em queda livre.

No entanto, a possibilidade de que seu nome esteja na próxima lista de Rodrigo Janot já acende o sinal amarelo, faltando poucos segundos para o sinal vermelho. Aliás, é bem possível que o STF casse o mandato da chapa Dilma-Temer, pois as provas são contundentes demais para mascarar o enorme abuso de poder: além do uso da máquina pública, o bilionário caixa 2 para a campanha da chapa.

O presidente se preparou muito bem para a entrevista ao renomado periódico britânico. Além da indireta, mandou bem quando disse que o Brasil não tem partidos políticos, tem acrônimos. Grande verdade. Afinal, qual a diferença entre PT, PMDB, PSDB, PP, PCdoB e todos os outros? Quase nenhuma, mas as semelhanças são várias, a começar pela flagrante corrupção que, até agora, só não pegou o PSOL e a Rede. Até agora, porque parece que o nome de Marina da Silva já esteve na boca de algum delator. A ver.

Já para a solenidade em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, ocorrida quarta-feira no Planalto, Temer não se preparou. Falou asneira atrás de asneira. Tudo bem que ele é de uma geração em que a maioria das mulheres deveria ser, pelo menos, de recatadas e do lar. No entanto, na posição em que se encontra, deveria ter, ao menos, um assessor para temas relacionados à mulher contemporânea. Em seu discurso, o presidente ressaltou os afazeres domésticos das mulheres, “o quanto a mulher faz pela casa, o quanto faz pelo lar, o que faz pelos filhos. E ainda falou sobre o conhecimento de economia doméstica, pois é tarefa das mulheres ir aos supermercados e abastecer a dispensa.

Michel Temer ainda mencionou que o número de mulheres que comandam empresas é imenso. What? Bebeu, não tem os números? Ou acha que é muito mesmo?

O Rei da Espanha, D. Juan Carlos, certa vez, numa reunião da Cúpula dos Estados Iberoamericanos, disse a Hugo Chávez uma frase que se tornou célebre, e que pode ser dirigida ao nosso atual presidente: ¿Por qué no te callas?

Bom fim de semana procês!

Foto Evaristo Sá/ AFP/ Getty Images