Lula: mentiroso e corrupto ou alienado?

Ao reler e ouvir as frases proferidas pelo ex-presidente Lula ao longo das cinco horas de seu depoimento ao juiz Sergio Moro, fico pensando: como elegemos duas vezes um presidente tão… alienado? Sim, porque um presidente que não sabe de nada que seus correligionários mais próximos (Palocci e Dirceu, por exemplo) faziam pelo seu partido enquanto ocupavam cargos em seu governo, só pode ser um alienado. Ou está mentindo.

Não tem saída, minha gente: ou é mentiroso e corrupto ou é alienado.

Vamos combinar, é difícil, senão impossível, imaginar que Lula seja alienado. Sua biografia e em especial sua carreira política são provas contundentes de que alienado ele não é mesmo.

Já a favor dos adjetivos “mentiroso” e “corrupto” temos fartos indícios. Antes de assumir o poder, Lula era crítico feroz de Sarney, Maluf e Collor. Eleito, aliou-se a eles sem o menor pudor. O que significava tudo o que dizia antes sobre estes personagens? Aliás, nos idos de 1993, Lula afirmou sobre Collor: “Pena que esse moço seja tão corrupto”. Será que esse “moço tão corrupto” e os outros se tornaram figuras tão ilibadas, a ponto de Lula promover uma aliança entre seu partido e esses corruptos reconhecidos?

Em seu depoimento, Lula afirmou que não tem influência sobre o PT. Mas quem seria Lula sem o PT? Ora, seria o mesmo de sempre, nada de diferente: continuaria com sua eloquência, com suas metáforas, arregimentando gente. E quem seria o PT sem Lula? Sem medo errar, a resposta é nada. Sem Lula, o PT talvez fosse como o PCdoB ou o PSol — inexpressivo. O ex-presidente é muito maior do que seu partido, e ainda que não tenha frequentado os congressos e reuniões petistas enquanto exerceu a presidência, é difícil imaginar que não opinava em nada. Até porque, podemos apostar que qualquer correligionário ia pedir a bênção a painho para a mínima decisão partidária. Além disso, é bom recordar que foi a influência de Lula que promoveu Fernando Haddad a candidato do PT à prefeitura de São Paulo em 2012, mesmo com figurões como Aloizio Mercadante e Marta Suplicy almejando a candidatura… e o posto, claro.

Lula criticou as elites a vida inteira. No entanto, na primeira oportunidade se aliou a elas. Ainda durante sua militância como sindicalista, aliou-se à Odebrecht, como contou o patriarca Emílio. Inclusive, a empreiteira e o ex-presidente mantiveram uma relação profícua e, por que não dizer, lucrativa, após o término do mandato. A empresa patrocinava palestras ministradas por Lula nos países em que tinha interesse de atuar — uma espécie de garoto-propaganda de alta estirpe, pois o patrocínio custou um bocado de dinheiro.

O discurso não contradiz a prática, a realidade? Afinal, Lula odeia as elites? Ou as ama porque se beneficia delas? Supostamente, devido às palestras, o patrimônio do ex-presidente cresceu 360%, chegando a R$ 8,8 milhões, como aponta sua declaração de renda de 2015.

Opa, peraí, com um patrimônio desses, acho que temos aí mais uma família da elite.

Supondo que o ex-presidente seja o homem mais verdadeiro sobre a face da terra, se ele não mentiu, todas essas pessoas que o citam nas delações são mentirosas? Mesmo tendo firmado um acordo em que se comprometem a apresentar provas do que declaram? Não que os delatores sejam santos, longe disso. Contudo, é fato que quem delata quer tentar abrandar sua pena, e também não quer se dar mal sozinho. Caberá à Justiça, com base nas provas e no amparo da Lei, descobrir quem são os mentirosos.

Enfim, tudo indica que não elegemos um presidente alienado. Elegemos, infelizmente, alguém muito bem articulado, inteligente, que abusou da boa-fé do povo, que enganou a todos, que mentiu e mente, e ainda usa o nome da esposa recentemente falecida para se safar da responsabilidade. É tudo muito triste. Preferia mil vezes que Lula fosse inocente. Desgraçadamente, não é o que as evidências apontam. Parece que fomos vítimas de uma organização criminosa, sobre cujo comando ainda pairam dúvidas.

Qual o seu palpite? Odebrecht ou Lula?

Bom fim de semana procês!

Foto Evaristo Sá/ AFP/ Getty Images).

Para ler mais de Vânia Gomes, clique aqui.

Para comprar o livro mais recente de Vânia Gomes, clique aqui.