O aniversário da porca

A_porca_faz_anosUma das “vantagens” de ter um jovem talentoso ator como sobrinho é estarmos sempre por dentro do que anda rolando na cidade, em termos de peças teatrais. E foi assim, por meio de nosso sobrinho-ator Flávio Café, que ficamos sabendo da hilariante peça “A porca faz anos!”.Trata-se do projeto de diplomação dos formandos em Artes Cênicas da Universidade de Brasília – UnB. É um projeto extenso, que dura os três últimos semestres do curso: no primeiro, os estudantes pesquisam sobre o tema; no segundo, “montam” e apresentam a peça, que é avaliada; e, finalmente, no terceiro semestre, os alunos apresentam a monografia abordando um aspecto relacionado à peça teatral, para obtenção do título de Bacharel em Interpretação Teatral. Portanto, a peça “A porca faz anos!” demanda pesquisa e orientação de um professor universitário e, por essa razão, é possível ainda exaltar seu mérito acadêmico.A peça trata do aniversário de 50 anos da porca, tal como uma conhecida cidade brasileira que completou 50 anos em 2010… Qual será? A peça inicia-se mostrando a imigração de pessoas para a cidade, como a realização de um sonho, a cidade de todo o povo! O aniversário de 50 anos da porca foi marcado por denúncias de corrupção, com direito a dinheiro guardado em roupas íntimas e meias… Também um caso de amor entre uma jornalista e um importante político, candidato às eleições, resultou em uma gravidez… E uma eleição por acontecer… Candidatos: a candidata da situação, Dirce Russo, cujo principal programa de governo se baseava no PLOC – Programa de Legalização do Ócio Criativo – já implementado com sucesso no Poder Judiciário e em alguns prédios da Esplanada dos Ministérios; o candidato bonitão, jovem, bom de lábia, Souza; o candidato mais conservador, que representou uma mistura de políticos como Renan Calheiros e Joaquim Roriz, José Carvalho, que teve um caso extraconjugal com a jornalista Carla Pitu que, por sua vez, também se candidatou; e a candidata da oposição, Aparecida, uma espécie de Heloisa Helena que usava um tipo de farda e fazia todas as denúncias possíveis ao governo.

A peça é sublime em criatividade, apesar do tema em si não ser tão original. Autêntica mesmo é a forma como foi apresentado. Havia a Pig Band, uma banda que fez ao vivo toda a parte musical da peça, de autoria do ator Fábio Miranda, vencedor do Prêmio SESC do Teatro Candango pela trilha sonora da peça e intérprete do político Souza. Além da Pig Band e das canções compostas por Fábio, foram apresentadas coreografias e vídeos ao longo da peça. Mas o que chamou muito minha atenção foi o talento dos jovens atores. À exceção da atriz que interpretou a Aparecida, que é talentosíssima, excelente no sotaque, nos gestos e na interpretação, os demais são formandos do curso de Artes Cênicas e são igualmente excelentes atores, que souberam interpretar seus personagens sem grandes estereótipos, o que seria até esperado, já que pelo menos os personagens Souza e o José Carvalho representavam figuras muitíssimo comuns no cenário político do Brasil.

“A porca faz anos!” foi apresentada gratuitamente na UnB em pelo menos duas ocasiões. Nós assistimos à peça no Teatro Nacional, Sala Martins Pena, com entrada a R$ 20,00 (inteira) – preço super acessível! Procurei saber e a peça deve ser apresentada em outras cidades. Fica a sugestão para quem quiser assistir a uma comédia criativa, interpretada por jovens atores, desconhecidos da grande mídia, mas talentosíssimos, com humor inteligente e crítico. O único problema é que saímos do teatro com uma sensação muito parecida com a que saímos do cinema após assistir ao filme Tropa de Elite 2. E, definitivamente, este problema não é da peça. E nem do filme.

Veja o vídeo da peça aqui.