Óbvio e ululante

meme-denuncia-lula-4Poucos países no mundo têm uma cena política tão movimentada como o Brasil. Até porque poucos países no mundo tiveram a ousadia de cavoucar fundo e desemaranhar a trama dos esquemas de corrupção. São várias operações simultâneas em andamento: Lava-Jato, Acrônimo, Zelotes, para citar algumas. E ainda tivemos recentemente um impeachment e a cassação do mandato e dos direitos políticos de Eduardo Cunha.

Ocorre que no Brasil a corrupção é “enraizada e sistêmica”, como explicou o Procurador Deltan Dallagnol. No entanto, a Constituição de 1998 foi a principal base para que uma expressão desse problema intrinsecamente brasileiro fosse desvendada. Segundo o Ministério Público Federal, a investigação levou mais de dois anos na montagem do quebra-cabeça.

Não vamos aqui entrar no mérito do anúncio na mídia, até porque, se houve algum abuso, a Justiça certamente punirá os responsáveis de acordo com a Lei. Mas não podemos fugir de seu conteúdo, também expresso em um documento de 149 páginas, que deverá ser analisado pelo Juiz Sergio Moro. Tenho convicção de que ele agirá com justiça, como de costume; e, se após a análise, não encontrar amparo legal na denúncia do MPF, Lula não será réu. O contrário também é verdadeiro.

Muito disse-me-disse está sendo propagado sobre o anúncio. É interessante observar o comportamento das pessoas, que opinam sem ler a denúncia e sem sequer ter assistido à apresentação, acusam o MPF e colocam palavras na boca dos procuradores.

Uma frase feita que viralizou está sendo atribuída ao Procurador: “Não temos provas, mas temos convicção”. Raciocinemos: como um Procurador Federal teria a cara-de-pau de dizer uma coisa absurda como esta? Como poderia um Procurador Federal acusar um cidadão (ou sete) sem provas? A frase feita despertou minha desconfiança, e motivou-me a assistir com muita atenção à apresentação do MPF.

Segundo o Procurador, a Lula foram “imputados os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, em um contexto específico, com base em evidências” (grifamos). Aliás, em vários momentos, o procurador diz que “as evidências apontam”, citando “as provas analisadas até aqui”. Conclusão óbvia e ululante: o MPF afirma ter provas, e tais provas levam à convicção de que Lula seria o comandante máximo da corrupção na Petrobras, motivando, assim, a denúncia. Essas provas, por sua vez, serão analisadas em juízo e, caso realmente demonstrem os crimes imputados, Lula e seus companheiros denunciados serão criminalmente acusados, terão amplo direito a se defender e serão julgados, como qualquer cidadão em situação semelhante.

A frase feita faz parte da estratégia petista: o objetivo é desqualificar a denúncia e os denunciantes, mexer com a opinião pública. É a máquina difamatória do PT em ação. Em poucos minutos, a frase farsante se espalhou. Para muitos, é mais fácil acreditar em fragmentos impactantes disseminados com criatividade do que assistir ao vídeo com cuidado e formar uma opinião própria a respeito, buscando verificar se a tal frase foi realmente dita. Quem assistiu ao vídeo pôde constatar que a tal frase farsista não passa de uma artimanha.

Lula deu uma coletiva para se defender, sem direito a perguntas dos repórteres presentes. Chorou. Alardeou que se se provar um ato de corrupção de sua parte, ele irá a pé para ser preso. Claro, demora mais, de avião é que ele não quer ir, não é mesmo?

Lula, em seu mundo particular, falou de si, de fatos de sua vida que causam comoção. A estratégia foi criar empatia e colocar-se na posição de vítima, pois pouco disse de realmente substancial relativo ao cerne da denúncia. Cabe comentar que, no início de sua exposição, o Procurador Dallagnol fez questão de frisar que não estavam julgando Lula, nem sua trajetória, nem o que fez de bom, ou o que fez pelo povo.

Lula afirmou que a “profissão mais honesta é a de político, porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir para a rua encarar o povo e pedir voto”.  Raciocinemos uma vez mais: essa é a profissão que demandaria mais honestidade, pois lida com a coisa pública, com a representação do povo. Mas não é o que vemos; não é o que o Mensalão, a Operação Lava-Jato e outras operações demonstram: a verdade é que a imensa maioria dos políticos atuais é desonesta. Lula admite, assim, que político rouba, e continua seu delírio desprovido de lógica, recitando que o fato de o político ter que pedir votos é mais digno do que passar em um concurso público. Desqualifica, mais uma vez, os procuradores, já que Dallagnol deixou claro que o trabalho da Operação Lava-Jato é apartidário, não tem interesse político e foi feito por servidores públicos concursados, à luz da lei.

Diante de tudo isso, só podemos esperar que a justiça seja feita. E que aprendamos a ser mais críticos com o que ouvimos e vemos. Repararam que nestas eleições municipais os candidatos petistas escondem a estrela e o nome do partido, e que o vermelho virou rosa? Pois é, puro ilusionismo para tentar ganhar eleições.

Bom fim de semana procês!

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