Que nos sirva de lição!

Bandeira_do_Brasil_Constitição_do_BrasilApós duas semanas em que vivemos no maravilhoso e espetacular mundo dos Jogos Olímpicos Rio 2016, a realidade já se nos impõe, dura, fria, amarga. Estamos nos momentos finais do impeachment de Dilma Rousseff, o derradeiro julgamento.

Feliz de estar passando por isso, creio, nenhum brasileiro de boa fé e bom senso está. Não é nada bom para o país ter que impedir um cidadão ou cidadã eleita para governar. No entanto, perante as fartas evidências de atos incompatíveis com a administração do bem público, especialmente relativo ao uso dos recursos públicos e, após todo um rito processual que seguiu religiosamente a tramitação descrita na Carta Magna, parece não haver outra saída.

Dá uma sensação de alívio, já que com isso o país se livra de um comando desastroso que levou à bancarrota toda a nossa esperança de desenvolvimento industrial e social. Estávamos indo tão bem! Mas os sinais de que as intenções eram, no mínimo, estranhas, vieram cedo. A parceria de Lula com Ahmadinejad, na contramão do mundo, e depois o apoio ao regime de Hugo Chávez e, notadamente, o irrestrito apoio de Dilma a Nicolás Maduro (que está destruindo a Venezuela), nos dá uma ideia do buraco onde estavam nos metendo. Quase conseguiram. Santa Constituição!

Os próximos dias serão importantes para nossa História. Os juízes, i.e., os senadores, ouvirão testemunhas de acusação e de defesa, e também a acusada, que poderá se defender e estará à disposição para responder às perguntas que lhe forem dirigidas, ainda que não seja obrigada a respondê-las. A falta de resposta também é uma resposta, não nos esqueçamos disso. A depender da pergunta, pode-se depreender muita coisa do silêncio.

Não esperemos um discurso diferente do que temos ouvido de seus aliados e dela própria há meses: que se trata de um golpe, pois não haveria crime e que, se absolvida, se comprometeria a fazer um plebiscito para convocar novas eleições. O repertório é pequeno, repetido à exaustão e já cansou mesmo, principalmente porque não vemos suas palavras reverberadas nas ações prometidas. Por exemplo, em sua mensagem ao povo brasileiro e ao Senado Federal na semana passada, Dilma Rousseff fala muito em “diálogo”, coisa que ela deu mostras de desconhecer ao longo de mais de cinco anos sentada na cadeira mais importante do país. Não dialogou antes com o parlamento, nem com seus próprios aliados, demonstrando seu lado autoritário. Estaria ela pronta e disposta ao diálogo caso não seja impedida?

No primeiro dia de julgamento já saiu o primeiro bate-boca, com ameaça até de processo. A frase, dita pela senadora Gleisi Hoffman, afirmando que no senado não há ninguém com condições morais para julgar ninguém, provocou tumulto. Por óbvias razões. Da maneira como ela disse, pode-se, inclusive, interpretar que nem ela própria tem tais condições. A generalização, no entanto, é perigosa.  Em que pese a presença de algumas figuras suspeitíssimas no plenário, incluindo a própria Gleisi, há senadores com envergadura moral, como Cristovam Buarque e Reguffe.

No cenário das condições morais, Fernando Collor é um personagem à parte; afinal o destino ou a História, como ele disse, lhe reservou este momento. Sem sombra de dúvida, é um momento interessantíssimo.

Também é bom lembrar que um processo de impeachment depende de diversas condições, entre elas a existência de crime de responsabilidade e a perda de apoio popular, algo importante a que os parlamentares devem estar atentos. A pá de cal para a perda do apoio popular foi a nomeação de Lula como Ministro da Casa Civil, já que havia a possibilidade de ele vir a se tornar réu e, neste caso, ter o foro privilegiado seria essencial. Nessa hora ficou claro que essa gente estava fazendo o povo de palhaço, e usava e abusava do poder legitimamente constituído nas urnas em benefício próprio e dos seus amigos. Fica muito difícil apoiar um governo que age dessa forma, que zomba do povo sem a menor cerimônia. O “santo”, claro, foi pintado de outra forma: Lula seria a pessoa que “ajudaria” Dilma a governar, pois sua competência já estava mais do que comprovada. Com esse quadro, admitiu-se a incompetência de Dilma, que precisou chamar seu antecessor porque não sabia governar. Se é assim, por que ela não pediu para sair?

As razões são várias, e a maioria delas está associada à manutenção do poder nas mãos do partido. O jeito de acabar com esses desmandos foi o impeachment, traumático, duro, mas constitucional, com o rito descrito detalhadamente na constituição cidadã de 1988 e sob a supervisão da Corte Suprema do país.

Acompanhemos, pois, as discussões, os embates e o resultado que, parece, já está traçado, falta só sacramentar. Que este seja o primeiro passo para a retomada do crescimento e do rumo do qual nos desviaram. E, principalmente, que esta experiência nos sirva de lição e que possamos estar mais atentos e espertos na identificação dos picaretas ávidos de poder.

Bom fim de semana procês!