Um novo caso de corrupção institucionalizada

A competição é só civilizadora enquanto estímulo; como pretexto para abater a concorrência, é uma contribuição para a barbárie.
Agustina Bessa-Luís

 

Russia banida das olimpiadasNaturalmente, a escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís não disse essa frase no contexto de competições esportivas, mas ela cai como uma luva para o caso do doping russo. Afinal, o objetivo de se aplicar “estimulantes” nos atletas é justamente abater a concorrência.

Por essa razão, pela barbárie constatada por Agustina (e é mesmo), o atletismo olímpico não contará com atletas russos competindo por seu país. É que foi julgado pelas cortes esportivas um processo acusando o próprio governo russo de coordenar um esquema de doping. Vamos combinar, é um tipo de corrupção institucionalizada.

Descobriu-se o esquema pelo atletismo, e já se sabe que o futebol russo também está contaminado por um programa denominado SAVE, capitaneado pelo Ministro dos Esportes russo, que, por sinal, também é o cartola da Federação Russa de Futebol, que impedia que o doping de certos atletas, escolhidos por ele, fosse revelado.

Quem garante que atletas de todas as modalidades também não participaram do esquema? E a vaga nos Jogos Olímpicos? Foi conseguida com suor ou com uma ajudinha do ministro?

Talvez a dúvida seja a principal motivação para banir toda a delegação russa dos Jogos Olímpicos do Rio, decisão que deverá ser tomada no próximo domingo pelo Comitê Olímpico Internacional. É injusto com os atletas russos que comprovadamente não “participaram” do esquema. Mas, por outro lado, como garantir que isso não ocorra novamente? Como garantir que algum atleta da equipe não tem mérito para estar ali, tendo conseguido a vaga dentro de um esquema? E a injustiça com os demais atletas de todo o mundo? E mais, como premiar um país que corrompeu o sistema? Qual o real significado do quadro de medalhas?

Os Jogos Olímpicos são uma oportunidade de vermos os limites do corpo humano. Os atletas de alto rendimento protagonizam um espetáculo de beleza, força e habilidades físicas que nos encantam e emocionam. Desafiam seus corpos ao limite. É preciso talento, mas sem treinamento e disciplina talento não vale muita coisa. Nesse caso, acrescente-se um remedinho também, capaz de diminuir o esforço e melhorar a performance.

Os tribunais esportivos que julgaram o caso foram unânimes em banir o atletismo das Olimpíadas 2016, mas caberá ao COI a decisão final sobre a participação de toda a delegação russa. O presidente do COI declarou que o caso é chocante e sem precedentes.

Talvez o caso da Fifa seja a ponta do iceberg da corrupção no mundo esportivo, onde circulam cifras milionárias e que tem na realização de eventos como os Jogos Olímpicos a oportunidade perfeita para “arrecadar” para si somas significativas.

E eu que pensava que corrupção nas Olimpíadas fosse algo exclusivo do Brasil, com suas obras superfaturadas e malfeitas. A cada episódio como esse, parece mais claro que não há limites para a capacidade humana de roubar ou tirar proveito das situações para abater a concorrência ou simplesmente se dar bem. É a barbárie. É lamentável. E desanimador.

Bom fim de semana procês!