Vingança instantânea

grevebsbAqui em Brasília, estamos no período de transição política. Ainda que queiram nos convencer de que estamos em transição na esfera federal, a verdadeira “passagem de governo” está ocorrendo na esfera distrital. O resultado do primeiro turno foi devastador: o candidato à reeleição sequer foi para o segundo turno. Deve ter sido nesse momento que ele decidiu: “Minha vingança será maligna”.

O Brasil não faz ideia da situação em que Brasília se encontra. Se estava ruim antes das eleições, quando éramos governados por um candidato, terminado o período eleitoral a cidade desandou completamente. Para começar, diversas vias do DF estão ocupadas pelo lixo, já que o governo distrital está sonegando o pagamento da empresa que faz a coleta. Logo estaremos fazendo jus ao premonitório nome de uma banda dos anos 1980: Detrito Federal.

Pouquíssimos ônibus estão circulando na cidade e, claro, lotados. O motivo? Adivinhem: falta de pagamento também. O GDF não pagou às respectivas empresas responsáveis pelos serviços. Imaginem que no primeiro dia de greve, o DFTrans, órgão (ir)responsável pelo pagamento das empresas de ônibus, instalou blitz bem cedo nas cidades satélites atingidas pela paralisação. Assim, foi impossível a circulação de transporte pirata e a população ficou totalmente sem alternativa para ir ao trabalho. Coincidência ou planejamento?

Aí, vem o efeito cascata. As pessoas não vão trabalhar, empresas ficam sem condições de funcionar ou contratam transporte (caríssimo) para buscar seus funcionários em casa. Serviços deixam de ser oferecidos, ou o são com queda da qualidade. Quem mais sofre, como sempre, é a população mais pobre, envolta nesse emaranhado sem vergonha, sem limites. E ainda querem nos convencer que o tal governo fez mais pelos pobres. Francamente! O que vi nos últimos quatro anos aqui na Capital Federal foi o vertiginoso aumento da população de rua, que me parece um bom indicador de pobreza/ miséria.

Voltando ao nosso revoltante assunto, algumas pessoas já perderam o emprego devido à greve de ônibus, que provocou oito dias de caos urbano. Só para uma empresa, a dívida é de R$15 milhões. Em contrapartida, está sendo apurado um desvio de R$30 milhões no DFTrans. Mais uma coincidência?

Quem não mora em Brasília deveria estar tão ou mais revoltado do que nós, que aqui vivemos. É que o Fundo Constitucional do Distrito Federal custou aos cofres públicos, em 2014, R$11 bilhões! Dinheiro do contribuinte do Brasil inteiro aplicado no quadradinho, valor maior do que o orçamento total de nove estados brasileiros! Esse recurso é destinado a manter integralmente a área de segurança pública, e pagar parte dos salários da educação e da saúde. Em outras palavras, o Brasil inteiro injeta muito dinheiro para cobrir os gastos mais pesados de qualquer Estado ou município.

Sobre a segurança, como já mencionei na crônica “Um cafezinho”, após quatro anos governados pelo dispensado governador, Brasília é uma cidade insegura. A criminalidade está batendo à porta de nossas casas. Neste quadradinho de apenas 5.802 km2 ocorrem dois assassinatos por dia. Isso, sem falar nos sequestros-relâmpago, nos latrocínios, nos roubos de veículos, no tráfico de drogas.

Com relação à saúde, além da constante falta de médicos e insumos, o problema atual dos hospitais públicos do Distrito Federal é, pasmem, a falta de comida. Por enquanto, só os acompanhantes dos enfermos estão sem alimentação nos hospitais. Até aí, tudo bem, comida de hospital não é lá essas coisas. Mas as rádios locais já informaram que, por falta de pagamento, nas próximas semanas, os pacientes ficarão em jejum. Como todos sabem, os pacientes dos hospitais públicos são aqueles que não têm condições de pagar um plano de saúde, ou seja, os mais pobres.

É esta a situação do DF, caros leitores. O governador eleito herdará uma cidade aparentemente rica, mas com boa parte do orçamento comprometido com os salários dos servidores, “presente” do demitido governador aos seus funcionários às vésperas das eleições.

Resta aos cidadãos brasilienses, além de ter pena do pobre-coitado do próximo governador, rezar para que ele sobreviva às inúmeras intempéries que seu mandato enfrentará desde o primeiro dia.

Enquanto ele não toma posse, o protesto de 80% da população de Brasília (este é o número de eleitores que não votou no atual governador no primeiro turno) está resultando em uma vingança nunca antes vista na breve história deste quadradinho. É a única explicação para tamanho maltrato com a população, especialmente com os mais humildes.

Que isso nos sirva de lição e que nunca mais esses #@&%# voltem ao poder.

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1 Response

  1. Antônio disse:

    Boa tarde, Vaninha. Uma crônica muito bem formulada a propósito dos desmandos ocorridos e que continuam na Capital Federal…bom dizer que o governado anterior é do PT, partido da trambique, que não paga nada a ninguém e vive de “pixulecos”. Sua caneta escreve escorreita…mu abraço fraternal….ansilgus,